quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

18 de dezembro

Não, a raiva não passou... Mas acho que agora posso pelo menos tentar te falar algumas coisas sem surtar "no meio do caminho".
Este ano foi bem mais difícil do que eu esperava, e isso não é novidade, porque você passou por coisas bem ruins também. Mas não posso (nem quero) falar por você e acho que devo algumas explicações. 
Sinto raiva por ter percebido que quando precisei das pessoas, elas não estavam lá. Sinto raiva por ter que me convencer de que não posso esperar das pessoas reciprocidade. Sinto muita raiva por continuar vendo as pessoas se distanciando cada vez mais de mim, e por mais que eu tente segurá-las, elas continuam se afastando. 
Acontece que... infelizmente você faz parte dessas "pessoas". Justamente você, a única que deixei participar por inteiro do meu mundinho, tão pequeno, tão pobre, mas que tenta a todo custo aumentar. Vi em você essa possibilidade: você poderia me ajudar a crescer, a me tornar alguém melhor. Levei-te para conhecer cada canto meu. Contei meus medos, partilhei alguns segredos. Alimentei sonhos e esperanças. E o fiz (do modo como fiz contigo) pela primeira vez. Em alguns momentos você teve mais de mim do que eu mesma tenho, confiei-te páginas dos meus diários (o que nunca tinha acontecido). Eu pensava que quanto mais soubesse de mim, mais me entenderia, mais saberia como eu sinto as coisas de um jeito mais intenso do que elas realmente são e como me machuco muito mais rápido por ser assim. Eu pensava que se te contasse e mostrasse algumas coisas de mim, você poderia decifrar as minhas reações, sem que eu precisasse me explicar o tempo todo. 
Eu não me lembro de ter chorado (de verdade) na frente de ninguém (além da minha mãe e madrinha). E não fazia isso porque era motivo para demonstrar minha fragilidade, o que não poderia acontecer. Mas chorei diversas vezes na sua frente, pelo único fato de ter confiado em você. Uma confiança que para mim é extremamente difícil de ser criada. 
Eu tentei te mostrar tudo o que eu tinha, tudo o que eu sabia de mim. Todas as minhas teorias malucas de como me relaciono com as pessoas. Contei como eu só consigo ter raiva de alguém se eu amar muito esse alguém. Porém nunca sinto ódio. Como eu me desgasto no processo de "gostar de fulana", como isso exige de mim coisas que nem sempre tenho para oferecer. Tentei te contar isso tudo, "amontoar tudo isso"...
O problema é que mesmo eu permitindo que você entrasse de modo tão presente no meu mundinho, mesmo assim... Isso não impediu que você agisse como todas as outras pessoas. Ok, os acontecimentos explicam o motivo de ter agido como agiu, mas não justificam. Entende? 
Da primeira vez (quando sua mãe apareceu lá em casa), eu relevei, entendi o medo que estávamos, o quão atônitas estávamos. Da segunda vez, acordei no hospital e você não estava. Senti como se fosse uma facada nas costas, daquelas bem dadas, com direito a um sorriso cínico de canto da boca de quem golpeou. Da terceira vez... Bem, tudo bem agonizar de dor em casa, você estava em outra cidade e não dava para pegar o primeiro ônibus/vôo/ trem/ o raio que fosse. Mas da quarta vez... Não... Essa eu não aguentei, de novo eu acordei num hospital e você não estava. E me desculpe por não compreender. Desculpe-me por não aceitar seus motivos, por não ser paciente, por não colaborar, por não te estimular a "continuar tentando". Da quarta vez eu não consegui relevar. 
Todo mundo esse ano simplesmente virou as costas para mim. Eles me abandonaram, como se eu não fosse alguém que conhecessem, que chamavam de amiga/filha/etc. E você... a pessoa que eu me esforcei tanto para que me conhecesse... Você fez a mesma coisa. Agiu do mesmo modo. "Agora eu não posso", "não tem como ir agora", "desculpa", "tenta entender, também estou num momento difícil"... 
E por isso eu sinto raiva, parece que foi tudo em vão. Tudo o que eu tentei te mostrar... Tudo o que eu julgava de mais importante no mundo... Parece que foi tudo em vão. De nada adiantou. 
E agora sinto que estou sendo abandonada de novo. E mais, como se ganhasse um bilhetinho escrito um belo de um "foda-se". 
Mas sei que eu tenho grande parte da responsabilidade pelas coisas chegarem a esse ponto. E peço desculpas mesmo por agora não conseguir dar o suporte que você precisa... Acontece que o ano todo eu precisei desse tal suporte, agora eu não tenho nem mais onde pisar para tentar te segurar. Não posso dizer que cheguei ao meu limite, porque isso aconteceu em outubro mais ou menos. Já ultrapassei esse limite e depois da cirurgia, caí tão fundo que mal consigo ver um feixe de luz. 
Você pode ficar à vontade para dizer o quão "exagerada" eu estou sendo. Pode me falar para não fazer tempestade em copo d'água, pode até ficar repetindo que as coisas são "simples". Tens todo o direito. Mas nunca pensei que ouviria essas coisas de você. 
E cá estamos. 18 de dezembro. 
Todos os meus pensamentos do tipo "você não devia deixar as pessoas entrarem, porque sempre vai acabar se machucando" retornam... E nessas reviravoltas da vida, eu fico imaginando como seria se eu realmente tivesse "você assim pra sempre". 

terça-feira, 15 de outubro de 2013

Medo...

"Em verdade temos medo..."
Sim, tenho muito medo. Em fato, devo admitir minha covardia referente a tantos e outros assuntos. 
Não sei se é esta fase primeira de percepção da vida adulta chegando ou se é o tipo de medo que nunca mais me abandonará. Mas tenho medo de não conseguir. Tenho medo dos meus planos ficarem apenas em estado de ideia. Tenho medo de ter uma vida qualquer e medíocre. Tenho medo de não conseguir ter sequer uma vida. 
Às vezes penso que não vou conseguir nem terminar este curso decentemente. Ainda mais com certa ausência no ano que vem. Sinto que vou falhar. Na verdade, já me sinto uma falha e isso tem me tirado o sonho e me levado a pensamentos mais pessimistas do que o costume: "será tudo um lixo, você não vai conseguir nada do que quer". É o que fico me repetindo. 
Não sei mais como lidar com essa pressão e tensão toda... Não posso conversar contigo sobre, porque... Porque é complicado te explicar algumas coisas e não falar é mais compreensível do que tentar expor problemas e causas. Não sei mais o que fazer. Além de tudo o que vem acontecendo, ainda mais isso para me tomar tempo e força. 
Sinto que sou uma fraude e incapaz até de continuar fingindo que estou bem. 

quarta-feira, 9 de outubro de 2013

O maldito 62 da realidade

Dormindo com o diário no canto do colchão, dividindo espaço com o travesseiro, a ponto de virar peça chave do jogo de cama. A sequência das palavras já não faz diferença, o que me permite escrever no escuro. Ou, desenhar a letra, dependendo do conceito relacionado a cada termo. 
Parece-me que aqui e lá (no diário) são os únicos lugares onde posso compartilhar algumas angústias circunstantes dos últimos dias. Hoje me dei conta do número 62. Um simples e claro número, compreendido entre o ontem e o amanhã. Um serene e calmo número que carrega em si o peso da finitude. Um número qualquer, que felizmente não é 1 e infelizmente não é 1000. 
Hoje compreendi a essência do 62. Adeus. Seu predicado natural é tristeza, seu escopo é desespero, seu termo coexistente é saudade. Fernando Pessoa se enganou quanto ao "maldito 33 da realidade", porque o 62 existe e está aí... Logo mais também será 33. E depois 25, 19, 5, por que não? O 62 de hoje se tornará 1, e então, num ato anti-racional e filosófico, mudará sua essência, inverterá os papéis, dará cambalhotas e zombará da minha agonia. 
O 62 numa gargalhada súbita trará a farsa da segunda versão histórica da humanidade. Não terá piedade em nos mostrar a catarse de bom grado. Não... O Maldito 62 vai rir, como um personagem trágico que não se flexiona e sabe que quaisquer decisões o levarão a destinos nefastos. E, quiçá, numa metamorfose atípica, se revele como o próprio desespero, como a própria solidão. 
Como pode, tamanha dor prover de um número que logo se reduzirá a zero? Ou que se elevará a 212... Porque é tudo sempre uma questão de perspectiva. 
Quando o senhor 62 se transformar em 212, devo eu notar que "nem tudo num navio deteriora no porão?" Ou devo eu esperar que a solidão pode voltar a ser estado natural? 
O que me resta enquanto o 62 ainda é 62? Disso respondo "o hoje". 

quarta-feira, 17 de julho de 2013

Como eu me sinto quando...

... ouço Chaconne in D minor, BWV 1004- J. S. Bach

Ela perguntou se a música era tão boa assim.
Eu respondi: não é boa... É mais que perfeita. Impecável, não falta nada, não tem compassos confusos e ao mesmo tempo não é aquela coisa chata e previsível. Acho que tem que ser alguém muito insensível e negligente para não sentir absolutamente nada ao ouvir isso.
E então ela me perguntou: o que você está sentindo?"
Eu respondi, ainda atônita com o efeito da música sobre mim: não sei se consigo descrever... Ouvir isso é como se eu estivesse deparada com a melhor, maior e até hoje insuperável invenção musical humana. Como se percebesse que o homem é capaz de inventar qualquer coisa. Eu entro em estado de êxtase, acoplado a uma agonia e tristeza profundas... E quando estou me convencendo que estou chegando ao fundo do abismo, do qual jamais sairia, ele [Bach] sai do tema principal da música e me traz de volta à superfície... mas não me deixa lá, leva-me cada vez mais para cima e me faz sentir como se eu quase pudesse tocar o céu. E então volta o tema principal e te puxa para a superfície de novo, como que diz: seu lugar é aqui, nesse meio entre o caos total e a satisfação plena. E nessa corda bamba eu começo a sentir um poder brotar entre as entranhas, perfurar-me até meu âmago até que finalmente me consome por inteira. Esse poder é o que me faz saber que posso me equilibrar nessa coisa que chamamos de realidade, por mais instável que seja. E agora posso entender Stephen Chbosky, "and in this moment, I swear we are infinite". Me sinto mais ou menos assim...

https://www.youtube.com/watch?v=sw9DlMNnpPM

quinta-feira, 4 de julho de 2013

"teu problema é que você confunde o nada geral com o teu vazio."

Já faz tempo.
Tanta coisa já faz tempo. E tanta coisa ainda não fez.
Tenho desejos atônitos que me bloqueiam o sono, tenho pensamentos civicamente imorais que me perturbam a mente e tenho medos incompreensíveis que tem me tornado fria. Posso desejar o possível, contemplar-me em alvos, resumir a vida a uma planilha. Confesso que já tentei. Posso planejar viagens, finais de semana, estender os ressalves em discursos e metas, como se a existência fosse compreendida por simples arquétipos funcionais.
Poderia desejar o possível... Mas não. Isso me soa pacato e comum, cansativo, portanto. Assumir a vida como um ramo de possibilidades a serem atingidas a fim de se provar algo a alguém alheio é, no mínimo, hipócrita e, no máximo, irrelevante. Isso é pouco e previsível. Eu quero... não, não quero... Eu aspiro o impossível. Aspiro o que não é real. Não como uma mera fantasia de criança, e sim uma complexa capacidade de irreverência à disposição cultural atual. Desejo o impossível para que o possível me venha como algo e não como triunfo. Planejo uma vida inatingível para me lembrar da minha própria insignificância. É um movimento dolorido, contudo me traz certo êxito.
Às vezes algumas impossibilidades saem do seu meio natural e, como cometas que caem, atingem o campo das possibilidades. Quando isso raramente acontece, temos um enorme problema. São nessas escassas horas que eventualidades surgem pelo seu caminho. Eventualidades essas em forma de ser humano, chegam para devastar seus pequenos esquemas, mudar suas rotas, criar o caos e guinar aquilo que você chamava de vida."Mas tudo bem, do mesmo jeito que entram, num momento devem sair e tudo volta a ser como antes", você pensa. Acontece que esse momento nunca chega. Simplesmente mudam sua vida para sempre e você não pode reverter o processo.
Ao entrar uma pessoa, como daquelas portas que só abrem por fora, nunca mais sai. Até que se percebe arquitetando uma vida inteira ao lado dela e o sonho se torna grande demais para acordar e ao mesmo tempo para realizá-lo. Você fica naquele entrave entre o desejo e a realização dele, que conhecemos por realidade, nela não cabem mais seus sonhos e também não tem espaço para torná-los possíveis, a realidade te prende nas suas próprias vontades.
Você não tem mais ideais, por notar que não são, de fato, praticáveis. Não tem mais desejos substanciais por não serem exequíveis. Vocês sonharam tão alto, mas tão alto que apenas o topo poderia satisfazer e saciar o tédio, suprir o vazio, erradicar a dor, alimentar o desejo, extinguir a saudade, exacerbar o êxtase, conhecer a paz e, sobretudo, dar sentido à vida. Somente o topo traria tudo isso e ainda deixaria dúvidas se é o suficiente ou não. Mas o sonho é inatingível, inesgotável e, pior que tudo junto, insaciável. Agora nos resta amar incondicionalmente o puro devir, ir até o âmago das coisas, exalar o mais belo medo do ser [de perde-se no vazio] e... depois de toda dor, sobreviver.

domingo, 26 de maio de 2013

Coletânea de perdas

Tu vives. Vives fraco e vulnerável. Tu choras, choras calado e angustiado. Tu andas, andas com tamanha tristeza que um único passo pisa numa poça de pesares e lágrimas. Tu vives, desta vez simplesmente porque é obrigado a viver. De cada alegria, tiras um universo de angústia. De cada momento eufórico, escondes milhares de prantos, incontidos numa única pessoa. Mas o que fazer? És forçado a aguentar e aguentar e aguentar.
És alguém que acopla pessoas, bichos e coisas a fim de maximizar sua existência ínfima e medíocre. Acontece que perdes todos. Perdes a ti mesmo eventualmente. Tua coleção mais valiosa é um álbum de figurinhas de todas coisas que já perdeu, com espaços infinitos para os que perderá. És alguém vazio, vazio, vazio, constituído de perdas.

terça-feira, 21 de maio de 2013

trilha sonora de uma segunda-feira à noite

Música: The Enemy
Artista: Mumford&Sons
Link: http://www.youtube.com/watch?v=h5vAsewkWwQ

Situação: hm...
Acontece que nos sentimos sozinhas. O que não deveria acontecer. Para resolver a solidão inconveniente fechamos e abrimos os olhos e nos encaramos. Fomos em alguma festa em alguma chácara, dado ao tédio instalado pelas outras companhias, resolvemos ir andar e conhecer o lugar ou simplesmente fugir daquilo que chamavam de "festa". Era noite e estava frio, vestíamos casacos compridos e cachecol.
Fomos andando grama à fora e sentamos em determinado ponto, apoiando-nos numa árvore.
Give me hope in silence
It's easier, it's kinder... 
Você falou algo do tipo "está tranquilo aqui" e eu concordei por impulso, meus pensamentos estavam longe... Estavam tentando atingir os seus. Eu te abracei com o braço esquerdo, senti sua cabeça repousar serenamente no meu ombro. Você pegou minha mãe direita, mais gelada do que de costume.
Tell me not of heartbreak
It plagues my soul, it plagues my soul
Seu toque sempre me deixou mais tranquila, mais calma. Dei-te um beijo na testa como símbolo máximo de proteção, mas que escondia a situação espelhada, na qual eu precisava me sentir protegida. But I came and I was nothing... De algum modo você ao meu lado significava pura e simplesmente paz. É como se fizesse aquele vazio ser aos poucos preenchidos pelos seus gestos singelos; como se a dor fosse amenizada pelo seu toque delicado e carinhoso; como se a angústia fosse suprida pela sua presença
So why did you choose to lean on
A man you knew was falling
Sentadas ali, o mundo parecia mais habitável, menos cruel. Você se ajeitou e se encolheu, ficando mais próxima de mim o que me move a te abraçar mais forte. Sinto o coração disparar porque começo a pensar em como seria se eu perdesse esse abraço. Como a tortura de viver sozinha seria perpétua e irreparável; como a existência não passaria de mera e necessária existência, sem substância tampouco essência.
And burry me beside you
I have no hope in solitude
And the world will follow
To the earth down bellow 
Sinto um desespero súbito. Felizmente você percebeu minha inquietação: levantou a cabeça de modo a me olhar com o canto superior do olho direito. Levantou-se do chão e deixou suas mãos esticadas a fim de me levantar consigo. Assim o fiz, completamente vulnerável. Você me abraçou forte, com uma força nada física, pelo contrário, tão sensível e sincera que foi o suficiente para tranquilizar meus demônios, agitados dentro de mim. E os silenciou com um beijo. Disse-me baixo "eu te amo", olhando-me fixamente e os silenciou de novo, e desta vez, para sempre.

[nunca mais te soltei desse abraço]

Give me hope in silence
It's easier, it's kinder... 

quinta-feira, 9 de maio de 2013

We've been to the top, we've been to the bottom...

Nascemos sozinhos no mundo. Completamente nus, alguns encharcados de sangue, outros com meros respingos. Choramos como que condenados injustamente e nos calamos como quem se conforma. Cortam-nos a única coisa que nos ligávamos de fato a alguém, fazem um curativo nos obrigando a superar a perda e elaborar o trauma. Pronto, daí para frente estamos sozinhos, atônitos, plenos, vazios, estupefatos, sozinhos, sozinhos...
Sim, temos uma família, na maioria das vezes. Temos nossos pais, a mãe ou só o pai. E que por um tempo cuidam de nós como se aquela coisa que nos ligávamos no nascimento ainda existisse... Como se ainda fossemos acoplados a "eles". Por alguns momentos pensamos ter amigos, amores, casos, namoros, noivados, casamentos, divórcios, mais casos, mais amigos... Pensamos... Quimera. Voamos "nas asas da Quimera" e assim seguimos o curso da vida.
Mas... Chega uma hora na qual se encontra gelada, sozinha, tremendo de frio e de medo. De frio e de medo... Nessa hora não adianta recorrer aos amigos, já não estão mais lá, tampouco aos amores, foram os primeiros a ir embora. Os pais ainda existem, mas como seres humanos normais [por mais extraordinários que pareçam] que são, possuem seus limites e não conseguem chegar e estender a mão. Nessa hora o vazio é inexorável e infindável, a escuridão é irredutível e amedronta a alma, de modo a sentir a coluna esfriar, esfriar e esfriar até chegar na nuca e imobilizar o pensamento. E finalmente paralisa por completo, sente-se inerte e o único sentimento permitido é a esperança de que uma força aja sobre você.
Sente-se sucumbindo e definhando enquanto seu corpo tenta lutar com espasmos, lágrimas, gemidos rancorosos, não adianta, é incapaz de responder. Está ali, sentada naquele chão frio e a sensação de estar caindo eternamente persiste, afinal, talvez nunca tenha, de fato, estado noutra situação senão a de estar caindo. Sente como se a vida toda fosse um constante engano, de escolhas erradas, pessoas erradas, caminhos errados, passos tortos, decisões falhas, atitudes desvarias. Com falsas esperanças de encontrar uma corda que te segurasse da eterna queda, a qual não se prendia em lugar algum. Segura estas cordas com tamanha vitalidade e alimenta o desejo de viver, percebe tempos depois a corda caindo junto de ti... O tamanho da corda é proporcional ao da expectativa e quanto maior a expectativa, maior parece a infinitude da queda.
Este buraco negro emerge e logo em seguida te devasta. Está sozinha, sentada num maldito lugar onde ninguém consegue te alcançar, onde a impossibilidade de salvação insiste irritantemente e pior, vence. Suas mãos geladas já não esquentam mais e você simplesmente desiste de tentar se manter quente. Apenas permite aquele gelo cruzar todo o seu corpo, percorrer cada veia e levar tudo que julgar conveniente. Cenas já não existem, lembranças são duvidosas, ânimo é mito e mesmo assim o coração persiste na sua tarefa de bombar sangue. As conversas são inconsistentes; os avisos, desnecessários; os conselhos, inválidos; as ajudas... bem, não existem.
Há muito não respira, apenas suspira por decepções e desilusões. Tenta em vão compreender o mundo e suas crueldades. Não se engane, também não é santa. Não sente culpa, não se arrepende, não sente, não fala, não olha... Você desistiu, fechou os olhos e se deixou cair, sem refúgios, fugas, mentiras ou máscaras. Enquanto isso, assiste aos outros passando pelas ruas como se nada estivesse acontecendo e talvez [para eles] não esteja...
Cai
Cai
Cai
E a única coisa que pensa enquanto cai é chegar um instante no qual tire forças de onde achou não existir mais. Espera avidamente pelo instante do qual retirará sua chance de sair dali. A força deverá surgir de um incômodo na boca do estômago, como se levara um soco, subirá pelo esôfago e travará na garganta. Ali ficará por alguns minutos, até atingir o âmago das coisas e te forçar a sintetizar tudo num grito impulsivo e explosivo, poderoso o suficiente para atravessar tempo e espaço, para tirar-te da inércia, para te fazer levantar, por-se à luz do sol, levar uma das mãos sobre os olhos para tampar um pouco da claridade que fere a face toda trancada na escuridão. A outra mão se estenderá para cima e se apoiará na borda do buraco, até que se levante plenamente.
Quando esse instante chegar, você sentirá apto a viver novamente, a caminhar sabendo que pode tropeçar e terá força para se equilibrar. Contudo, a vida não será mais a mesma. A ilusão não te acompanhará, terá tomado conhecimento de que está sozinha e sozinha viverá. E assim morremos sozinhos no mundo.

But..."the butterflies are still there"...

sexta-feira, 26 de abril de 2013

Onde anda você?

Você deixou saudades, minha pequena. Deixou um vazio tão doído, é mais do que uma ausência espacial, na qual não te sinto ao meu lado... É um vão nos sentimentos, uma ruptura nos pensamentos, uma tristeza na alma e uma vontade inexorável de reviver aqueles momentos, pelo menos uma vez mais...
Sinto falta da sua mão tocando a minha e me fazendo carinho, tão terno e suave. Tenho memórias saudosistas dos seus primeiros olhares, aqueles indecifráveis no início e que depois se tornam irredutíveis. Lembro dos beijos provocantes, da respiração ofegante, dos corpos exauridos na cama e dos toques calmos e sensíveis.
Fico me imaginando presa às lembranças, tentando acreditar que haverá outro dia, que amanhã tudo será diferente. Às vezes, minha pequena, a esperança parece tão distante... E então eu luto, reluto e me forço a esperar pelo melhor.
Sabe, não gosto de estar nessa situação inativa, na qual não cabe a mim fazer as coisas... É como se não fosse nunca acabar, como se estivesse cercada numa ilha, com mares de decepções, desilusões, medos, tormentos, aflições, angústias e desespero. Vejo a esperança lá longe... Mas ah... É tão cansativo nadar sozinha... Acontece que... você está na mesma situação, embora numa outra ilha. Cabe a nós nadar.
Contudo, você quase nunca está no meu campo de visão... Quase nunca te vejo na ilha, tampouco no mar. Isso me desespera, pequena. Isso me fazer pensar que o amanhã jamais virá...
Não quero me reduzir a lembranças. Não quero me prender a elas...
Quero revivê-las, reinventa-las e sonhá-las...
Onde anda você?
Não quero mais a saudade, o embrulho no estômago, as noites sem dormir, a mente estagnada...
Onde anda você?
O mundo não é grande o bastante agora, onde possamos nos esconder, não é?
Onde anda você?
Os muros são altos e os obstáculos vários. As vozes podem ser fracas, conquanto que as vontades sejam árduas.
E então eu direi, sem medo quiçá, eu te amo, eu te amo, eu te amo.

segunda-feira, 18 de março de 2013

"- But you do love me, don't you? - Madly"

Às vezes eu penso como é engraçado e cruel o curso da vida. Como eu não mereço tudo o que tenho e principalmente a quem tenho. De um dia para o outro as coisas mudam e levam rumo completamente distinto, num momento estamos alegres, noutros em completo desespero. Às vezes penso que o pior sempre pode acontecer; a qualquer instante tudo pode desabar por um simples deslize.

De repente vem-me à cabeça planos e finais felizes de uma vida "perfeita" [ao lado teu]. Como se tudo nos fosse permitido e só dependesse de nós. Imagino uma casa ou um apartamento, um trabalho, pequenas confusões resolvidas da melhor forma possível e imagino algo que nunca ousei... Na verdade eu nunca quis até passar quase um ano ao teu lado. Imagino uma coisa pequena, engenhosa, difícil, meiga, esperançosa e ao mesmo tempo temida que chamamos de filho.

Imagino como seria nos acompanhar, em aproximadamente 9 meses, mudar. Ver seu corpo moldando algo mágico sem utilizar um ar sequer de magia. Deitar quando chegar à noite e te dar mil beijos e idolatrar a cada dia o crescimento de sua barriga. E sentir a cada toque uma ansiedade de mostrar o mundo àquela coisa que será nosso novo mundo. Sentir que há muito mais na vida do que poderíamos imaginar e sonhar... Porque a imaginai e o sonho não dão conta de garantir a intensificar a realidade.

Imagino como me precipitaria a cada movimento brusco que você fizesse. E tentaria anteceder todos, para que não corresse risco algum. Imagino como seriam as primeiras visitas ao médico e pior, como seriam as últimas, como me sentiria em desespero e agonia profunda por saber que nossa vida pode mudar drástica e maravilhosamente em questão de dias. Imagino como seriam os preparativos, os cômodos, a disposição da cada para uma nova pessoinha.

Penso em como sentiria, mais do que nunca, medo de te perder. Viver aflita e feliz ao mesmo tempo. Dois sentimentos que nos gastam tanto serviriam de alimento à alma. E com efêmeros sentimentos que possam vir ao acaso. Penso em como nem sempre temos o que merecemos e que às vezes o inesperado faz mais parte da vida do que nossos planos. A mágica de formar uma vida dentro de si pode se esvair tão depressa e o medo pode ser tão súbito que nos leva a duvidar dos sonhos. Faz-nos não querer arriscar.

Imagino como seria lidar com essa dicotomia o tempo todo, entre uma felicidade incentiva e um medo subterrâneo. É aí que a vida começa e cria em nós o movimento de tentar, de ir, insistir, recuar, até que consigamos viver. E é aí que a criança "nasce", dessas angústias e esperanças, desses medos e planos. Já se faz viva antes mesmo de ensaiar nascer, instiga todas as mudanças, revela todos os sonhos, anseia às realizações, molda todos os panos enquanto ainda espera para viver.

Imagino como é ver essa coisinha, que traz consigo tamanho sentido e significado, nascer. Esgoelar e se impor no mundo, de modo a dizer [ainda sem palavras] a fim do que veio. Sentir o coração disparado enquanto os olhos se fixam vidrados e bobos. Ter a incerteza e a dúvida se tudo vai correr bem; ver os anos passarem em questões de segundos como um desenho em movimento no papel. Questionar-se da própria capacidade de criar e educar alguém, sentir medo que ensaia chegar ao pavor de não conseguir.

Pensar em tudo que esqueceu de fazer e deveria ter feito, e sim, aparecerão muitas coisas não feitas. Sentir a auto reprovação premeditada, sendo que hem passou pela prova. Encarar de modo profundo para uma vida que não sabe o quão importante já é, sem ao menos ter nascido direito. E o quão feliz ela deixaria uma pessoa em choque de tanta emoção. Pensar em tudo isso e mais um pouco enquanto pego essa miniatura de gente nos braços pela primeira vê e olho meio que sem explicação.

Imagino como seria olhar para você enquanto eu seguro aquele raio de luz. Como o meu olhar seria algo inexplicável, bobo-apaixonado, apavorado, feliz, medroso, eufórico e lunático. E como eu diria que amo você e me apaixono mais e mais a cada dia que passa. Como te daria um beijo na testa com os olhos bem fechado, símbolo máximo de carinho e proteção que poderia oferecer naquele momento. E ficaria alo, ao teu lado e não sairia por nada, a menos que mandassem [os médicos ou enfermeiros].

Imagino, por fim, como seria a vida... Ver o tico de gente crescer, atingir a dimensão da cidade e mais adiante, do mundo! E se tornar alguém com sonhos e perspectivas, com desejos e realizações. Ver crescer um novo ser a cada instante, cheio de contradições, dilemas e poucas soluções. Vivenciar as discussões rotineiras, os ódios passageiros, os amores intermitentes, os pensamentos latentes, os êxitos conquistados e as perdas adquiridas... Uma velhice ao lado teu e viver a flor da idade daquela coisinha que trouxe tanta alegria e plenitude.

quarta-feira, 13 de março de 2013

:///

Talvez eu seja mesmo uma pessoa ruim, que não merece muita coisa, auto comiserável, orgulhosa, arrogante. Talvez eu tenha que me virar sozinha e nunca contar com ninguém, talvez eu seja esnobe demais ao tentar ajudar, egoísta demais.
Talvez eu esteja levando tudo para o lado errado mesmo... Interpretando tudo só para o meu lado. Talvez eu seja muito exigente mesmo e estou pegando pesado contigo.
Não sei... Acho que fiz algo errado. Em algum momento nesse meio, devo ter perdido algo importante... E isso me entristece profundamente, porque me esforcei tanto para dar tudo certo, para tentar te fazer bem... Dei tudo de mim, tudo mesmo. Tenho me colocado em "stand by" há tempos e tentado te dar toda a atenção que me era possível. Pode ter sido aí que errei, não sei...
Mas olha, eu não consigo mais levar as coisas como estão. Você me perguntou porque eu apoiei na arvore hoje, simplesmente porque não estou mais me aguentando em pé. Não estou mais conseguindo lidar com tudo isso de um modo forte e peço desculpa por isso.
Desculpa por ser tão fraca e não aguentar a situação. Mas ou eu assumo que não estou conseguindo ou eu caio, mas dessa vez será um abismo... E não posso me dar ao luxo de cair e suspender tudo. Desculpa, mas não posso fazer isso comigo outra vez, não é "justo".

"you have broken me, all the way down"

segunda-feira, 11 de março de 2013

uma vida [ou nove meses]

9 meses!
Eu nem acredito que passou tanto tempo mas de forma tão rápida. Posso me lembrar de [quase] todos os dias desde o primeiro dia de aula que envolveram você. De todas as manhãs que traziam consigo aquela dose de expectativa desesperada. De todas as tardes que não cambiam em mim e me mostravam a plenitude escondida num estado de euforia. De todas as noites clamando por uma simples frase que pudesse desvendar o mistério imposto, com voz trêmula, tímida e ansiosa.
De todas as besteiras que eu falava, de todos os diálogos imaginários que poderia fazer para amenizar meu desespero e êxtase.

Lembro de como costumava imaginar o impossível. De como deitava a cabeça no travesseiro, num ato de pura desistência e pensava "nunca vai dar certo, você é demais para mim". Pensava em como passaria mais alguns anos da minha vida gostando de alguém que mal sabe quem eu sou [se é que posso dizer "quem" eu sou]. E pensava em como eu seria a pessoa mais feliz do mundo se conseguisse um mínimo da sua atenção... Nunca imaginei que teria mais do que isso...

Lembro do começo, dos pés... Da vontade de ficar invisível por um segundo para não transparecer o desespero, a surpresa, a alegria e o medo...
De como demos as mãos pela primeira vez... Pela segunda vez, terceira... De quando te abracei. De como ia embora torcendo para acontecer qualquer coisa que fosse no dia seguinte.
Devo me atrever a dizer que eu lembro de tudo, sim, tudo e não quase tudo, rs. E posso redigir esta história 987342 vezes na minha cabeça e a cada momento encontrarei algo novo, uma sensação e um sentimento novo. Porque de certa forma é isso que você desperta em mim: algo novo a cada dia.

amoamoamoamoamoamoamoamoamoamoamoamoamovocê.

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

Don't you worry...

You said last night that I was treating you in a badly way... I really don't think this is true, but I must apologise for make you uncomfortable with any stupid thing that I might have said.
The point is, my dear, we might argue about how we solve our problems, or how you are being calm and I'm acting by despair or even the contrary. We can have our little fights, our silent... But I won't be happy with nobody else, as long as you live on earth. No one will be good enough for me... You'll certainly say that I'm overreacting, I'm sure I'm not. I'll be here. I'll be here for anything you need. I'll hug you in those tough moments, kiss you on your forehead and look after you. I'll kiss you in the most ardent and lovely way, whispering in your ear that I love, love, love you.
But if you're not pleased yet, I'll shout out loud, for everybody hears me.