segunda-feira, 30 de abril de 2012

o canto do encanto...

E quando as coisas começam a perder aquele encanto que tinham... Perdem aquele brilho e aquele cheiro de livro novo. Não mais que de repente o novo se torna tão facilmente substituído pelo adjetivo pejorativo velho. Um momento tão efêmero passa silenciosamente como uma lágrima do céu que cai disfarçada de chuva. O gosto instigante da curiosidade se cessa numa auto sabotagem amarela.
É como se aquele ar verde novo que respirasse se tornasse marrom... Que por algum motivo sofreu a invasão do vermelho no seu território e o manchou. O problema é que o vermelho não é algo tão novo e fresco como o verde, e sim algo obsoleto, cheio de frustrações e decepções e distante. O vermelho como cor quente que é, ao contrário do que pensam, não é acolhedor. Ele afasta as coisas. Partículas no estado gasoso, em altas temperaturas se afastam, ao passo que em baixas, juntam-se a fim de reter o pouco calor que lhes restam.
Perder o encanto é como se afogar conscientemente. A luz vai diminuindo à proporção que desces às profundezas do oceano. Percebe toda aquela imensidão escura a tua volta e se dá conta de quão insignificante você sozinha é. O ar se vai e um vazio te completa, enche todo o seu pulmão de angústia e solidão até que finalmente se entrega a tais sentimentos e perde a magia azul da superfície límpida.
É perder algo que te motiva, render-se às desilusões da vida e se conformar com o otimismo alheio.
De certa forma sinto tudo isso, porém, no momento, não na perspectiva de quem perde o encanto e sim do encanto perdido. Podem até pensar que a agonia é unilateral, mas o encanto não gosta de ser perdido, ele deixa de existir se não for sustentado o tempo todo, ele sente a angústia de ir sumindo aos poucos e não conseguir reverter o processo, sente-se inútil por não conseguir se manter. Ser perdido é sentir sua vida escorrendo nas próprias mãos, como grãos de areia que caem livremente e não os pode segurar. É se ver morrer sem querer.
Mas o encanto sempre depende do encantado e essa dependência é maior do que a recíproca dela.

"Don't try to fix me
I'm not broken
Hello, I'm the lie living for you
So you can hide, don't cry"

But in fact, yes, I'm fucking broken...

domingo, 29 de abril de 2012

melhor fim de noite dos últimos tempos...

hm..
curiosamente respondi muito bem à situação de hoje... Melhor do que eu esperava... Talvez pelo fato de que vê-la bem era mais importante do que qualquer crise de ciumes sem fundamento.
Conversamos como boas amigas que não se viam há tempos... Foi bom e nos livrou de tanto peso, tanta coisa mal conversada, não que tenhamos as conversado, porém o ato de estarmos ali, rindo absurdamente e bem solucionou muita coisa.
Ok, a noite começou no Caldinho e terminou aqui em casa, agora pouco... Com direito a violão, piano, macarrão ao som de Buena Vista Social Club às 4h da manhã, reclamação do vizinho às 3h30, tricô, origami, muita pinga, água, suco aguado e outras coisas mais... Foi surreal... surreal!
Mas foi tudo bem, suportei tudo aquilo bem e realmente estava feliz por ela estar bem...
Deve ser um pouco também porque agora minha atenção está voltada a outro "lugar"... E acho que gosto desse "lugar", de verdade.
Sim.. pode ser algo que me machuque [mais uma vez] monumentalmente, mas acho que quero correr o risco, parece valer a pena... Posso estar bem enganada e dar com a cara no muro de novo, se isso acontecer, prometo que dessa vez levo um kit de curativo...

sexta-feira, 27 de abril de 2012

let it go...

Quando as coisas voltam a ter sentido...
Quando as musicas voltam a ser agradáveis...
Quando os sons deixam de ser perturbadores...
Quando não sinto mais nada...
Isso significa que não gosto mais de ti, finalmente? Que você não influencia em mais nada na minha vida?

E quando lembro de certas coisas e me deprimo?
Quando sinto raiva por ter me permitido tanto...
Quando... quando quero que você desapareça para sempre, desejando que nunca tivesse aparecido?
Isso significa que ainda sofro por você?

Não sei... tenho medo de dizer: "está passando" e ser apenas uma outra fase de negação e depois me deparar no fundo do poço novamente... Mas sim, gostaria muito de dizer "está passando"

"Ride the winds of a brand new day
High where mountain's stand
Found my hope and pride again
Rebirth of a man
Time to fly"


quarta-feira, 25 de abril de 2012

trilha sonora de um terça feira a noite

hm.. ok, faz tempo que não escrevo as trilhas sonoras..
hoje, sim, terça feira..
1- Roads- Portishead
2- Videogames- Lana del Rey
3- New moon different days- The Gathering
4- Waiting- The Devlins
5- The Hill- Markéta Irglová

Situação.. hm..
Postei-me a pensar nas coisas que vem acontecendo e como vou lidar com elas... Não sabia nenhuma das respostas às perguntas propostas... Eu estava bem calma aparentemente, mas minha cabeça pensava em mil coisas ao mesmo tempo sem me dar espaço para organizar os pensamentos. Por dentro estava completamente inquieta.
- Que você tem? - Me perguntou baixo me olhando de longe
- Nada.. só pensando numas coisas..
Veio para perto e se sentou ao meu lado
- Que coisas hein?
- Hm.. - Respondi encarando - nada não..
Sim, eu gostaria de dizer tudo, detalhe por detalhe do que imaginava. Era uma vontade ilusória e inviável para o momento e local. [termina roads e começa videogames]
Levantei batendo de leve na sua perna, o gesto seria sugestivo o suficiente para causar qualquer interpretação, e fui andando, não sabia bem para onde, acho que queria um lugar sem pessoas, exceto uma...
Peguei o fone de ouvido do bolso; enquanto andava eu desfazia seus pequenos nós que só o bolso sabe dar, quando notei com uma visão periférica que me seguia. Dei um sorriso disfarçado para mim mesma e continuei andando, sem esperar mas na mesma velocidade.
Cheguei onde queria [ou não]. Ali não tinha "ninguém". Sentei numa cadeira velha que ali tinha, terminava de desenrolar o fone quando escuto:
- Oi
Dei risada, mostrando uma leve satisfação por ter me seguido
- Olá- respondi simpática enquanto ainda ria
Olhava-me constantemente como se dissesse alguma coisa e, talvez, de fato dizia... Apoio-se na parede da sacada na minha diagonal e ficou ali, não falava nada, só me olhava.
- Que? - Perguntei intrigada.
- Nada.. - Respondeu rindo graciosamente, mas deixava notar a vergonha
- É que você veio até aqui...
- Sim
- Não quer falar nada?
- Não..
- Hm.. ok.. - Dei uma breve, quase semibreve, risada
- Só queria ficar aqui... com você. - Disse baixo e rápido para que passasse despercebido o que falara..
- Ah é? - Perguntei com um tom provocativo.
- Sim - Falou enquanto passava a mão no cabelo para arrumá-lo. [fim de videogames, começa new moon different days]
- Está aqui agora... - Continuei no tom provocativo enquanto olhava de lado. Percebi sua ansiedade em não saber muito o que fazer. Acendeu um cigarro e sua mão direita estava um tanto quanto agitada, franziu a testa quando acendeu e fechou um pouco os olhos.
- É - disse no intervalo da fumaça.
Eu me admirava com o que via, a fumaça vagava pelo ar fazendo desenhos suaves.
- Hm... - Levantei da cadeira, notei sua inquietação, olhei de lado rapidamente para os seus olhos que me acompanharam. Parei em pé ao seu lado. - Sai de lá porque queria um lugar quieto, saca?
- Tudo bem, vou embora então.. - Disse rindo.
- Não. - Respondi rápido, sem hesitar.
- Não?
- Não, você fica. - Dei risada enquanto encarava.
- Ok..
- Você é fácil, já disse né? - Provoquei.
- Não sou fácil.. - Respondeu liberando a fumaça e franzindo a sobrancelha.
- Ah não? - Perguntei chegando um pouco mais perto.
- E se eu fosse?
- Hm...
- Seria ruim? - Sua ansiedade cortou minha resposta.
- Não não... - Cheguei um pouco mais perto [fim de new moon different days, começa waiting]
- Anh...
- Mas eu espero, mesmo assim...- Voltei para a cadeira, mas antes dei um toque singelo na sua barriga.
Olhou-me sentar de volta agora com a ansiedade reduzida e soltou a fumaça inclinando a cabeça para cima, como se estivesse pensando em algo.
- Espera? - Voltou com a cabeça e olhou para mim.
- Sim...
- Até quando?
- Hm.. aí eu não sei, por um tempo..
Virou-se de costas para mim de modo a olhar a vista da sacada. Bateu o cigarro para diminuir a brasa.
- Você é diferente... - Falou colocando o cigarro na boca.
- Isso é bom?
- Acho que sim..
- Acha?
- É...
- Por que acha?
- Porque... - hesitou em responder- não sei.. - deu risada olhando para mim sobre o ombro esquerdo.
- Ah sim.. adoro pessoas exatas...
- É, não sou..
- Eu sei - Respondi encarando enquanto me olhava sobre o ombro. [termina waiting, começa the hill]
Voltou a cabeça para olhar a vista e disse:
- E tudo bem eu não ser? - Segurou o cigarro na boca e prendeu o cabelo rápido com aqueles pauzinhos de prender cabelo. Colocou sua mãos sobre o corrimão da sacada, a direita segura o cigarro quase no fim.
- Tudo ótimo - respondi levantando da cadeira e indo em sua direção, prendi-a na sacada, ainda de costas e beijei sua nuca. Não dei espaço para que se virasse, não queria que o fizesse.
Não agora.
Fiquei a prendendo ali por uns 15 segundos depois do beijo na nuca, para que elaborasse aquilo. Ao findar desse ínfimo tempo que parecia uma eternidade, saí rápido, antes que se virasse, tomei distância e disse:
- Vamos?
Apagou o cigarro na parede de fora, olhando-me com indecisão e me seguiu, novamente.

O corredor parecia um pouco mais longo agora.


quinta-feira, 19 de abril de 2012

Causa e consequência

Sinto tudo girar. O escuro do quarto degrada as cores que vejo quando fecho os olhos. Sinto uma ardência confortavelmente desconfortável. Aquela dor latente de fundo que joga adrenalina no sangue e impulsiona uma sensação satisfatória.
Penso na preocupação inventada, é como se tomasse todo o meu corpo e a adrenalina deixa de ser suficiente. O coração bate num meio angustiado e denso. A cabeça dói. Os olhos fecham lentamente e abrem rápido. Como se não gostassem do que vissem quando se fecham, mas acontece que tambem não gostam da visão de quando estão abertos.
Sinto uma culpa escorrendo por todos os lugares e pingando sincronizada, cada pingo continha um intervalo de tempo idêntico ao pingo passado, no final, tal continuidade causava um barulho estrondoso e insuportável de se carregar.
O corpo está gelado, mas as mãos suam como se quisessem gritar algo. A cabeça lateja, lateja, lateja...
Fico pensando e pensando, são pensamentos rápidos que não consigo identificar todo o contexto, tornam-se flashes...
Dói... E são 3:30 da manhã..