quarta-feira, 17 de julho de 2013

Como eu me sinto quando...

... ouço Chaconne in D minor, BWV 1004- J. S. Bach

Ela perguntou se a música era tão boa assim.
Eu respondi: não é boa... É mais que perfeita. Impecável, não falta nada, não tem compassos confusos e ao mesmo tempo não é aquela coisa chata e previsível. Acho que tem que ser alguém muito insensível e negligente para não sentir absolutamente nada ao ouvir isso.
E então ela me perguntou: o que você está sentindo?"
Eu respondi, ainda atônita com o efeito da música sobre mim: não sei se consigo descrever... Ouvir isso é como se eu estivesse deparada com a melhor, maior e até hoje insuperável invenção musical humana. Como se percebesse que o homem é capaz de inventar qualquer coisa. Eu entro em estado de êxtase, acoplado a uma agonia e tristeza profundas... E quando estou me convencendo que estou chegando ao fundo do abismo, do qual jamais sairia, ele [Bach] sai do tema principal da música e me traz de volta à superfície... mas não me deixa lá, leva-me cada vez mais para cima e me faz sentir como se eu quase pudesse tocar o céu. E então volta o tema principal e te puxa para a superfície de novo, como que diz: seu lugar é aqui, nesse meio entre o caos total e a satisfação plena. E nessa corda bamba eu começo a sentir um poder brotar entre as entranhas, perfurar-me até meu âmago até que finalmente me consome por inteira. Esse poder é o que me faz saber que posso me equilibrar nessa coisa que chamamos de realidade, por mais instável que seja. E agora posso entender Stephen Chbosky, "and in this moment, I swear we are infinite". Me sinto mais ou menos assim...

https://www.youtube.com/watch?v=sw9DlMNnpPM

quinta-feira, 4 de julho de 2013

"teu problema é que você confunde o nada geral com o teu vazio."

Já faz tempo.
Tanta coisa já faz tempo. E tanta coisa ainda não fez.
Tenho desejos atônitos que me bloqueiam o sono, tenho pensamentos civicamente imorais que me perturbam a mente e tenho medos incompreensíveis que tem me tornado fria. Posso desejar o possível, contemplar-me em alvos, resumir a vida a uma planilha. Confesso que já tentei. Posso planejar viagens, finais de semana, estender os ressalves em discursos e metas, como se a existência fosse compreendida por simples arquétipos funcionais.
Poderia desejar o possível... Mas não. Isso me soa pacato e comum, cansativo, portanto. Assumir a vida como um ramo de possibilidades a serem atingidas a fim de se provar algo a alguém alheio é, no mínimo, hipócrita e, no máximo, irrelevante. Isso é pouco e previsível. Eu quero... não, não quero... Eu aspiro o impossível. Aspiro o que não é real. Não como uma mera fantasia de criança, e sim uma complexa capacidade de irreverência à disposição cultural atual. Desejo o impossível para que o possível me venha como algo e não como triunfo. Planejo uma vida inatingível para me lembrar da minha própria insignificância. É um movimento dolorido, contudo me traz certo êxito.
Às vezes algumas impossibilidades saem do seu meio natural e, como cometas que caem, atingem o campo das possibilidades. Quando isso raramente acontece, temos um enorme problema. São nessas escassas horas que eventualidades surgem pelo seu caminho. Eventualidades essas em forma de ser humano, chegam para devastar seus pequenos esquemas, mudar suas rotas, criar o caos e guinar aquilo que você chamava de vida."Mas tudo bem, do mesmo jeito que entram, num momento devem sair e tudo volta a ser como antes", você pensa. Acontece que esse momento nunca chega. Simplesmente mudam sua vida para sempre e você não pode reverter o processo.
Ao entrar uma pessoa, como daquelas portas que só abrem por fora, nunca mais sai. Até que se percebe arquitetando uma vida inteira ao lado dela e o sonho se torna grande demais para acordar e ao mesmo tempo para realizá-lo. Você fica naquele entrave entre o desejo e a realização dele, que conhecemos por realidade, nela não cabem mais seus sonhos e também não tem espaço para torná-los possíveis, a realidade te prende nas suas próprias vontades.
Você não tem mais ideais, por notar que não são, de fato, praticáveis. Não tem mais desejos substanciais por não serem exequíveis. Vocês sonharam tão alto, mas tão alto que apenas o topo poderia satisfazer e saciar o tédio, suprir o vazio, erradicar a dor, alimentar o desejo, extinguir a saudade, exacerbar o êxtase, conhecer a paz e, sobretudo, dar sentido à vida. Somente o topo traria tudo isso e ainda deixaria dúvidas se é o suficiente ou não. Mas o sonho é inatingível, inesgotável e, pior que tudo junto, insaciável. Agora nos resta amar incondicionalmente o puro devir, ir até o âmago das coisas, exalar o mais belo medo do ser [de perde-se no vazio] e... depois de toda dor, sobreviver.