segunda-feira, 18 de março de 2013

"- But you do love me, don't you? - Madly"

Às vezes eu penso como é engraçado e cruel o curso da vida. Como eu não mereço tudo o que tenho e principalmente a quem tenho. De um dia para o outro as coisas mudam e levam rumo completamente distinto, num momento estamos alegres, noutros em completo desespero. Às vezes penso que o pior sempre pode acontecer; a qualquer instante tudo pode desabar por um simples deslize.

De repente vem-me à cabeça planos e finais felizes de uma vida "perfeita" [ao lado teu]. Como se tudo nos fosse permitido e só dependesse de nós. Imagino uma casa ou um apartamento, um trabalho, pequenas confusões resolvidas da melhor forma possível e imagino algo que nunca ousei... Na verdade eu nunca quis até passar quase um ano ao teu lado. Imagino uma coisa pequena, engenhosa, difícil, meiga, esperançosa e ao mesmo tempo temida que chamamos de filho.

Imagino como seria nos acompanhar, em aproximadamente 9 meses, mudar. Ver seu corpo moldando algo mágico sem utilizar um ar sequer de magia. Deitar quando chegar à noite e te dar mil beijos e idolatrar a cada dia o crescimento de sua barriga. E sentir a cada toque uma ansiedade de mostrar o mundo àquela coisa que será nosso novo mundo. Sentir que há muito mais na vida do que poderíamos imaginar e sonhar... Porque a imaginai e o sonho não dão conta de garantir a intensificar a realidade.

Imagino como me precipitaria a cada movimento brusco que você fizesse. E tentaria anteceder todos, para que não corresse risco algum. Imagino como seriam as primeiras visitas ao médico e pior, como seriam as últimas, como me sentiria em desespero e agonia profunda por saber que nossa vida pode mudar drástica e maravilhosamente em questão de dias. Imagino como seriam os preparativos, os cômodos, a disposição da cada para uma nova pessoinha.

Penso em como sentiria, mais do que nunca, medo de te perder. Viver aflita e feliz ao mesmo tempo. Dois sentimentos que nos gastam tanto serviriam de alimento à alma. E com efêmeros sentimentos que possam vir ao acaso. Penso em como nem sempre temos o que merecemos e que às vezes o inesperado faz mais parte da vida do que nossos planos. A mágica de formar uma vida dentro de si pode se esvair tão depressa e o medo pode ser tão súbito que nos leva a duvidar dos sonhos. Faz-nos não querer arriscar.

Imagino como seria lidar com essa dicotomia o tempo todo, entre uma felicidade incentiva e um medo subterrâneo. É aí que a vida começa e cria em nós o movimento de tentar, de ir, insistir, recuar, até que consigamos viver. E é aí que a criança "nasce", dessas angústias e esperanças, desses medos e planos. Já se faz viva antes mesmo de ensaiar nascer, instiga todas as mudanças, revela todos os sonhos, anseia às realizações, molda todos os panos enquanto ainda espera para viver.

Imagino como é ver essa coisinha, que traz consigo tamanho sentido e significado, nascer. Esgoelar e se impor no mundo, de modo a dizer [ainda sem palavras] a fim do que veio. Sentir o coração disparado enquanto os olhos se fixam vidrados e bobos. Ter a incerteza e a dúvida se tudo vai correr bem; ver os anos passarem em questões de segundos como um desenho em movimento no papel. Questionar-se da própria capacidade de criar e educar alguém, sentir medo que ensaia chegar ao pavor de não conseguir.

Pensar em tudo que esqueceu de fazer e deveria ter feito, e sim, aparecerão muitas coisas não feitas. Sentir a auto reprovação premeditada, sendo que hem passou pela prova. Encarar de modo profundo para uma vida que não sabe o quão importante já é, sem ao menos ter nascido direito. E o quão feliz ela deixaria uma pessoa em choque de tanta emoção. Pensar em tudo isso e mais um pouco enquanto pego essa miniatura de gente nos braços pela primeira vê e olho meio que sem explicação.

Imagino como seria olhar para você enquanto eu seguro aquele raio de luz. Como o meu olhar seria algo inexplicável, bobo-apaixonado, apavorado, feliz, medroso, eufórico e lunático. E como eu diria que amo você e me apaixono mais e mais a cada dia que passa. Como te daria um beijo na testa com os olhos bem fechado, símbolo máximo de carinho e proteção que poderia oferecer naquele momento. E ficaria alo, ao teu lado e não sairia por nada, a menos que mandassem [os médicos ou enfermeiros].

Imagino, por fim, como seria a vida... Ver o tico de gente crescer, atingir a dimensão da cidade e mais adiante, do mundo! E se tornar alguém com sonhos e perspectivas, com desejos e realizações. Ver crescer um novo ser a cada instante, cheio de contradições, dilemas e poucas soluções. Vivenciar as discussões rotineiras, os ódios passageiros, os amores intermitentes, os pensamentos latentes, os êxitos conquistados e as perdas adquiridas... Uma velhice ao lado teu e viver a flor da idade daquela coisinha que trouxe tanta alegria e plenitude.

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