segunda-feira, 26 de março de 2012

"it's fun to lose and to pretend"

Chegamos para o churrasco dentro do nível considerado normal e padrão de atraso da minha mãe. A minha picanha bem passada estava saindo já e todos até estranharam nossa pontualidade daquele dia [mesmo estando atrasadas]... dei um oi geral para todos, cumprimentei um ou dois formalmente, minha mãe fez o mesmo.
- Oi- cheguei por trás e dei-lhe um beijo em cima da cabeça.
- Olá- respondeu até que com bom ânimo.

Sentei distante, um pouco por ter poucas opções de lugares vazios e prontos para serem ocupados e um pouco pela minha indisponibilidade de falar com alguém. Embora gostasse muito das pessoas que ali estavam, aquela cena em particular não era de meu agrado. Sentei por alguns minutos ali, tentando não encarar nada... Percebendo a impossibilidade de fazê-lo resolvi subir e preparar caipirinha de kiwi... Tentei não demonstrar, mas meu olhar de raiva era perceptível caso o notassem.
Não o fizeram.

Fiz a caipirinha, desci e como de costume dei para alguém provar, como se obrigasse a pessoa a dizer que estava boa, mas de fato estava.
Voltei ao mesmo lugar e sentei novamente. Mexia em vão no celular, a fim de disfarçar aquela coisa ruim que sentia e ainda não sabia nomeá-la.
- Senhorita, sua picanha bem passada... - disse alegre, ele era contra fazer picanha bem passada, mas abria uma exceção para mim
- eeeeee, obrigadaa! - falei rindo enquanto já pegava uma da tábua.

Comi aqueles pedaços que coloquei no prato, coloquei-o sobre a mesa e me levantei para pegar um pedaço de pão. Nossas mãos se trombaram e eu logo evitei. Hesitei em pegar o pão, mas voltei a ideia original, para não dar a entender nenhuma desavença. Voltei para o meu lugar.

Ali fiquei com um tempo, conversei com algumas pessoas que chegavam do lado, às vezes nossos olhares se encontravam e eu logo arrumava um jeito de desencontrá-los. Minha inquietação ficava mais visível e não fazia nem uma hora que havíamos chego lá.
Notei o copo de caipirinha se esvaziar. Peguei-o e subi. No único intuito de sair dali. Deixei o copo sobre a pia e fui ao banheiro.
Lavei a mão e abri a porta. E me surpreendo com a pergunta:

- O que tá acontecendo? - perguntou com tom seco
- Nada.. - tentei desviar o foco.
- Aham... Fala, que que aconteceu?- insistiu
- O que quer que eu faça? Sente no meio dos dois e fique falando contigo? - perdia a paciência mas falava baixo- Ah, super!
- Por que não?
- ? Porque não rola, não consigo...
- Qual é o problema? Você disse que estava feliz por mim, não disse?
- Estou.. estava.. sei lá, quer que eu diga o que? "estou feliz, mas me irrita o fato de você estar com alguem"?- havia me exaltado um pouco - não, não posso dizer isso.
- Ahh.. sem crise de ciuminho vai.. - diz com aquele olhar típico que só eu noto. [eu odiava aquele olhar]
- Exatamente. - Disse seca, tentando sair e voltar para cozinha.
- Marília, pára com isso vai.
- Não comecei nada, não me peça para parar.
Segurou-me com o corpo, impedindo a passagem. Aaaaah, por que faz isso comigo, por quê?
Num ato razoavelmente violento, levei-nos para o banheiro, coloquei seu corpo contra a parede e falei com raiva e agoniada:
- Você... você sabe que eu gosto pra caralho de você. Sabe que essa história toda fodeu com tudo e ainda me pergunta o que está acontecendo! Pára mano, acorda! Tu só vai se machucar e... vou ficar preocupada contigo, daí você vai sumir.. como sempre faz.. e eu vou ficar mais preoc..
- Marília, pára! Eu sei me cuidar.
- Aham, eu tambem! Me tranco em casa, não como direito, sumo e não dou sinal da minha existência... sim, você super sabe se cuidar.
Fitava-me de um jeito negativo enquanto eu contrapunha sua opinião.
- Não fique preocupada oras.. Eu já sou bem...
- Não tem como ficar de boa- falei interrompendo- você... você escutou o que eu falei? - Perguntei indignada.
Não disse nada nos próximos segundos
- Não, não responde.. deixa pra lá...- tentei evitar qualquer decepção- Só me diz uma coisa... - hesitava- nunca... nunca passou nada... pela sua cabeça... nada, sobre.. sobre a gente?
Olhou para baixo e permaneceu em silêncio.
- Ótima resposta! - Saí do banheiro irritada, dando-lhe as costas.

Aquilo... Aquela situação me matava, embrulhava o estômago, reproduzia seu silêncio na minha cabeça... A vodka caiu mais que 6 segundos no copo, deve ter atingido uns 11. Quando me dei conta era tarde. Amassava o limão no copo com ódio estocado. Coloquei mais gelo para diluir um pouco e compensar a dosagem maior de álcool.
Foda-se, pensei deixando o copo novamente.
Voltei no banheiro e ainda estava lá.

- Esquece isso... Vai lá e seja feliz, agora todo mundo já sabe de qualquer forma. - falei seca, como que dissesse: "saia da minha vida para que eu possa te esquecer". Mas sabia que no fundo o que eu mais queria era o oposto disso...


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