terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Heterônimos, parte II

Como prometido, fuck it.
Aquela garrafa de tequila terminou lá pro meio da festa, mas o controle permanecia intacto. Não que quisesse fazer algo, só não teria problema algum se acontecesse. As falas passavam em branco, apenas uma "coisa" a chamava a atenção.

Tinha decidido ir, deveria arcar com as consequências.
- Quer ir fazer caipirinha? - ouviu de fundo, uma voz distante.
- Eu?
- Aham.
- Tá. - Disse sem muita opção de resposta, mais aérea impossível.
Estava na pia cortando os limões, cortou quatro, virou para o lado para pegar a vodka e o açúcar e encontrou algo a mais.
- Caipirinha?
- É o que parece, não?
- Quer ajuda?
- Não, obrigada.
Ficaram em silêncio por alguns segundos.
- Que que aconteceu meu?
[o que você acha que aconteceu? ¬¬], pensou
- Nada, por quê?
- Porque você está um cu.
- Desculpa. Dá licença, preciso pegar uma colher.
Entregou a colher com uma expressão de ódio e saiu dizendo:
- Você gosta de estragar tudo, não?
Aquilo fora uma tremenda provocação, [eu? eu gosto de estragar tudo?]foi atras e disse:
- Engraçado, não sou eu quem está com alguém. Não sou eu quem gosta de provocar, sabendo que não é "certo".. Sim.. sou eu quem estrago tudo! Claro, por que não?
- Pára..
- Não sou eu quem..
- PÁRA!- ergueu a voz, numa atitude desesperada
- Ahn.. ok!- ia se virando, quando ouviu a insistência.
- Me desculpa, eu só não podia ficar esperando..
- Quê?
- Ficar sofrendo, esperando você se decidir.
- Eu me decidir?
- É. Você não se decidia, se queria ou não ficar comigo, se gostava mesmo de mim...
- Realmente, a culpa é minha.
- Não é isso que estou dizendo..
Não esperou o fim da conversa, voltou para a pia, terminou a caipirinha, pegou a garrafa de vodka num ato atordoado, deixou a coqueteleira em cima da mesa, com um copo do lado e foi andando, dirigindo-se ao portão.
A tequila não tinha sido suficiente para cair no esquecimento profundo. Recorreu à linda, quase cheia, garrafa de vodka.
- Onde você tá indo mano?
- Me deixa? Por favor?
- Pára de ser idiota.
[idiota, eu? claro]não respondeu e continuou andando. Abriu o portão e saiu. Sentou do outro lado da rua, encostada no muro. Ouviu o barulho do portão abrindo.
- Volta pra dentro vai...
- Não.
- Mano..
- Você me tira do sério, sabia? Me desconcentra, sei lá... Custa se comportar e ficar de boa?
- Já pedi desculpa.
- É, como se realmente quisesse ser desculpada.
- Talvez eu não queira- disse se aproximando.
- Pára..
- Talvez eu tenha provocado de propósito...
- Não faz isso, eu falei que não..
- Falou que não o quê?
- Que não ia fazer nada, então pára, por favor.
- Não quero.
Aquela foi a "pior" [melhor] resposta que poderia ouvir.
O inevitável aconteceu.

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