sábado, 18 de fevereiro de 2012

A moça do ônibus.

Ah, a moça do ônibus. Entra sempre indiferentemente soberba, com seu uniforme preto da Garcia, com o cartão pendurado no pescoço, num cordão verde que combina com os detalhes da manga do uniforme. Ela usa sempre sapatos pretos, discretos, porém clássicos. Embora esteja quase sempre de óculos de sol, deixa transparecer sua má vontade de ali estar, mas ao mesmo tempo demonstra sentimentos alternativos quanto estar ali, ora sentada, ora de pé. É de costume estar com fone de ouvido preto, seu celular é um moderno da LG, rosa.
Tem um trejeito peculiar de estar presente mas não se sentir naquele lugar, naquele momento. É como se pensasse viver em outro mundo, no qual não era subalterna, explorada e insatisfeita.
Sim, insatisfeita. Seu corpo é bem definido, é magra, alta, cabelos lisos castanhos escuros- sempre presos num longo "rabo de cavalo", bem como penteados, de modo a ficar visível a separação dos cabelos feita pelo pente. Sempre chega maquiada, usa sombra, mas nunca preta, quando se atreve, suaviza para tornar cinza. Seus brincos são elegantes, entretanto, pequenos.
Não é chamativa, mas atrai a atenção aos olhos alheios. Seu jeito de andar dentro do ônibus copia aquelas modelos de alta costura, típica das que usam a altura favoravelmente.
Anteontem ela sentou "ao meu lado", exceto pelo fato do corredor separar os assentos. Olhava-a meio que de lado, não a encarava por puro moralismo. Ainda sim não detive a curiosidade por completo. Analisava-a. Usava uma meia calça um pouco mais clara que sua pele [que já era bem branca]. Seus sapatos clássicos deveriam ser da estação passada de inverno, quando o verde escuro/musgo com preto ainda estavam à mercê dos estilistas, com uma ponta não tão redonda, contrariando o scarpin típico.
Tem uma tatuagem tribal nas costas, mas não é possível ver completamente, já que o uniforme [que lhe cai muito bem, por sinal] interrompe o desenho. Usa um relógio no braço esquerdo [o que revela ser destra], com aparência masculina, contudo é design feminino, pois me foi proporcionada a visão quando levantei. A parte de cima era delicada e meiga.
Estava com uma corrente fina, banhada a ouro, mas tentava encobrir. Como daquelas que se deixa por baixo da camiseta.
Tinha uma postura correta e sentava com certa elegância, desligava-se do mundo. O que me chamava a atenção, mesmo, era seu olhar e gestos indiferentes, arrogantes e dados de entre-ombros. Era uma reação ao modo pelo qual sua vida fora encaminhada, fato, porém, sem sentido para a realidade.
E ontem... ontem ela não foi.

Um comentário:

Júlia disse...

Mais uma vez, adorei seu texto!!!!!!