Parece-me que aqui e lá (no diário) são os únicos lugares onde posso compartilhar algumas angústias circunstantes dos últimos dias. Hoje me dei conta do número 62. Um simples e claro número, compreendido entre o ontem e o amanhã. Um serene e calmo número que carrega em si o peso da finitude. Um número qualquer, que felizmente não é 1 e infelizmente não é 1000.
Hoje compreendi a essência do 62. Adeus. Seu predicado natural é tristeza, seu escopo é desespero, seu termo coexistente é saudade. Fernando Pessoa se enganou quanto ao "maldito 33 da realidade", porque o 62 existe e está aí... Logo mais também será 33. E depois 25, 19, 5, por que não? O 62 de hoje se tornará 1, e então, num ato anti-racional e filosófico, mudará sua essência, inverterá os papéis, dará cambalhotas e zombará da minha agonia.
O 62 numa gargalhada súbita trará a farsa da segunda versão histórica da humanidade. Não terá piedade em nos mostrar a catarse de bom grado. Não... O Maldito 62 vai rir, como um personagem trágico que não se flexiona e sabe que quaisquer decisões o levarão a destinos nefastos. E, quiçá, numa metamorfose atípica, se revele como o próprio desespero, como a própria solidão.
Como pode, tamanha dor prover de um número que logo se reduzirá a zero? Ou que se elevará a 212... Porque é tudo sempre uma questão de perspectiva.
Quando o senhor 62 se transformar em 212, devo eu notar que "nem tudo num navio deteriora no porão?" Ou devo eu esperar que a solidão pode voltar a ser estado natural?
O que me resta enquanto o 62 ainda é 62? Disso respondo "o hoje".
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